segunda-feira, 24 de outubro de 2011


um gafanhoto não sofre

por ser magro mais que um faquir

mais que osso descarnado e triste

não pergunta porque está ali

seco mais do que um grilo sem fala

o gafanhoto salta sem saber

do seu salto a essência ou a razão

reinventa manhãs de orvalho sobre as ruínas das folhas

segunda-feira, 3 de outubro de 2011



aqui estou
a meio caminho de pedra
fujo do medo de me fugir
da perda de mim mesmo
do rugir da fera na sala iluminada
aqui estou sem fingir
de poeta fingidor
sem apalavras de água
que me cerquem
me lavem e me saciem
aqui estou sem mágoa
em meu exílio voluntário
fora do calendário oficial
do dicionário honorífico
do vendaval de glorias e medalhas
aqui onde sou apenas bruma
na manha de chuva
sem história sem relevo
apesar da geografia montanhosa
vivo sem tempo e sem aurora
porque assim é este tempo
sem memória sem aura e sentimento
pouco ou nada sei
do mundo que me cerca
das cercas e portões de ferro
que me dividem o sentimento

mundo de muitas chaves
me atormenta
me encerra no tempo
lúcido ou louco
me deixa trancado em mim
por pouco para sempre se fecha completamente