sábado, 27 de agosto de 2011


é só estorvo e fardo
o que guardo a sete chaves
em lugar secreto
livros empoeirados
recibos velhos
cartas de amor sem data
diplomas remendados com durex

mas o que sou
de mim não se perde por inveja
no supérfluo areal dos desejos
absorvo em silêncio



um homem por si
é solidão
círculo de fogo
envolto em água
alga e lodo
embarcação sem porto
um homem em si
por si se inventa
dele nada se subtrai
nada se acrescenta
sobre pedra calma
Sísifo sem alma
se desinventa




domingo, 21 de agosto de 2011


que glória há
em dominar o planeta
se onde pisas tudo morre e seca
adoece de peste crônica
de mal se cura
se contra ti voltam tuas conquistas
todos os engenhos que inventas
se te cortam a carne a faca e o forcado
as ferramentas todas que construístes
se são de veneno tuas refeições diárias
se não tens direito a um sono tranqüilo
se inimigos ocultos batem à tua porta com porretes e bazucas
se te assaltam corpo e alma
em plena luz do dia
se mores esmagado pelas máquinas ferozes e desnorteadas
se descansamos nossos corpos sobre cadáveres de espécimes extintas
que vitória é esta que cantamos
com orgulho com cega distinção
que trágica alegria a do ser humano que trai e mata seus semelhantes

em nome de que ciência e de que conhecimentos
continuaremos esta guerra sem fronteiras nem motivos
e como haveremos de tecer poemas
canções de exílio
em mundo assim
insípido e opaco
que triste melodia embala tua oficina de medo

que glória há em dominar o planeta





o que sabe o homem notívago
sobre o homem que amanhece
o que sabe de manhã efêmera
o poema que adormece
se nada a nada se prende
tudo se permuta
na ilusória messe
se todo olho de anjo
esconde a primavera
uma flor carnívora
um olhar de fera
se tudo se pergunta
e nada corresponde
ao verbo eterno
ao que se tece
se a voz volátil evoca a vida
a face oculta do sonho
nada permanece


quarta-feira, 10 de agosto de 2011

o que se colhe na lavoura dos dias
sem esperança e sem memória
em sua infinita sucessão de tédio
além do crepúsculo dos sonhos
da indiferença das horas
se a noite nada oferece
senão estrelas ilusórias
desconhecidas e distantes
o que se colhe do tempo
terreno estéril
além da morte persistente
que tudo engole e ironiza

que universo é este
de veneno e regozijo
onde todos
de todos desconfiam

o que se colhe dos dias sem alma
às ave-marias

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

contrição
eu poeta contrito
me confesso pelo avesso
pela ironia do verso
pecado tenho alguns
todos os dias
todos anti-capitais
influências
tenho todas
algumas originais



o que passou
de todo não passou
a todo instante se reescreve
em sombras
reaparece nas paredes do abismo
pelo que floresce ainda na memória
pelo que de resto imanta
de sobras de silêncio o vestígio
das letras
o molúsculo discursivo insiste

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

quarta-feira, 3 de agosto de 2011


agora
o tempo casa de ostras
casulo de gás
estátua de vento
catedral
embuste e simulacro
nada lá fora canta
respira ou geme
cada qual por dentro se tranca
por medo ou ânsia
quebra a chave
a alma virtual
consigo mesmo
se contenta
evento cósmico
evanescente ritual

agora o tempo dorme

terça-feira, 2 de agosto de 2011


para o desconhecido
me dirijo

ou mal acompanhado
nada exijo da viagem
dos cosmonautas sem identidade
erijo no percurso
roteiros improváveis e obscuros
escrevo em línguas mortas
com palavras e rejeitos
poemas inconclusos

atravesso manhãs de neon
o céu furo com os olhos
com bazucas e oboés
ao som de guitarras e tambores

toda viagem é uma guerra muito particular