domingo, 31 de janeiro de 2010


Haiti

só quem viu
poderá nos dizer
quanta dor
quanto sofrimento
quanta solidão
só quem sentiu
tremer seu corpo
seu coração
pode chorar seu povo
merece mais
que o poder
merece amor
merece voz
todos os seres
aves e plantas
bichos e homens
ios e mares
merecem ter um país feliz

ver o vento da morte
passar
e chegar uma nova estação
e do fundo da terra brotar
a liberdade
e a esperança morar
em suas mãos

só quem viu o que eu vi
pode chorar por ti
só quem ouviu
pode cantar por ti
Haiti
Haiti Haiti
ai de ti
ai de ti
ai de todos nós


de comum insiste
a pedra na memória
o riachinho sujo
sobre o mesmo arqueado nome
a imaginária história
de tropeiros sem descanso
a fé missionária
veio de fora
de igual os fornos
e as forjas de sandice

de comum o que ainda resta
dos mortos no cemitério velho
alguns arcos de barris
o abismo entre os vivos
as rixas entre seus donos

arco íris por acaso ronda
o céu branco de fumaça
em uma incerta manhã
de sermão dominical
com sua ambígua
e desconfortável paz

de comum exibe a pedra
o face inculta do túmulo

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010


não é do poema
o que nele habita
homens sem rosto
tempo sem futuro
lugares sem marcas
não é do poema
tudo o que nele grita
o que em sua órbita vazia
grávido de angústia
sobre si gravita
no poema nada sequer
se prende por instinto
nada imita a vida
animal mais íntimo

não é do poema
a solidão da escrita