domingo, 31 de outubro de 2010


nada se move
na superfície de água
nem folha seca
nem peixe
no esquife do vento
nada balança o barco
só o sol sem sono no fundo do poço
arabrilhaodiamenteaceso


uma nada mais que pedra
quando se choca ao acaso
com a água e o vento
se quebra no abismo
cai
nada mais que pétala pedra
o que da rosa se abre em partes
rosa e pedra
lado a lado
no jardim pela arte se completam

sexta-feira, 29 de outubro de 2010


a memória da água sua sonoridade líquida
a música do vento em sua face implícita
o que se ouve no percurso na pedra
a se modela a seu tempo por fora do corpo
do que por dentro e mais profundo campo
se discorre em filetes de água
o discurso de rio oculto no escuro
no fio da manhã em frutos se perfuma
o barulho da água na pedra se desenha
mina de suspiros emrge de seus músculos assimétricos
o fluxo perpétuo imemorial murmúrio em círculos entre sol e chuva se repete

a memória da água persiste em pêndulos
de soluços
no que no ventre primitivo da escrita em sulcos se esculpe

a memória da água sua sonoridade líquida
a música do vento em sua face implícita
o que se ouve no percurso
do tempo por fora do corpo
o que por dentro e mais profundo campo
se discorre em filetes de água
discurso de rio oculto no escuro
no fruto no fio da manhã
o barulho da água na pedra se desenha
mina de seus músculos assimétricos
fluxo perpétuo imemorial murmúrio em círculos

a memória da água persiste
no que no ventre primitivo da escrita se esculpe

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Entre forma e fome
Entre linha e cor
Entre massa e pão
Entre vento e pássaro
entre dardo e dor
entre ar e alçapão

no pouso do canto
a vida não termina
no bico da asa
a liberdade predomina

terça-feira, 26 de outubro de 2010


não falo de algo
quando falo de fato
a fala é lago
que tudo afaga
entre água e céu
entre fel e mágoa
é crista e galo
e canto calmo
recanto da alma
no canto da boca
outro pássaro pousa
quando falo de algo
raaramente falho
se a fala não mente
escapo
a semente ecoa
no galho da árvore
a ave espera o vôo

segunda-feira, 25 de outubro de 2010


mão me procures nas palavras
belas e corajosas
ditas sob céu estrelado
não me procures na sonoridade
proverbial do meio dia
na verdade não me escondo
no que digo
nem me mostro por inteiro
no escombro das letras
mal emparelhadas
se é que estou
fico feito peixe abissal
folha seca
restos de raízes
nos intermitentes intervalos
do desdizer
deslizo mais que a enguia
sob a pedra
sorvo cada instante a pequena bolha
respiro de silêncio em silêncio
o mágico veneno do sentido
a vida foge quando
em meu nome
nomeio o sem mistério
das coisas obesas
não me procures nas palavras
ociosas

não me procures e me encontrarás

sábado, 23 de outubro de 2010


um poema se faz
na escritura do corpo
no limite do poema
nem mais nem menos
no limo da língua
no cemitério da boca
o poema se inicia
sob a pele do logro
objeto ao fogo
nada nele se perde
tudo em poema se tranforma
nada reto nada torto
nada além de seu contorno
o poema todo em cada parte
se revela entre preso e solto
artefato e rosto

sem ti
reina a desordem
do vocabulário cósmico
nada canta ou voa
tudo em pedra se traveste
de lodo e musgo
o sol cego
se erige na parede dos olhos
sem ti reina a desordem
no coração das coisas

sexta-feira, 22 de outubro de 2010


o objeto por si só
opaco e mudo
pássaro quieto
rio surdo
o objeto por si só
lua geométrica
caixa hermética
sonar sem rumo
anti-verbal
túmulo desnudo
o objeto por si só
compacto objeto
sobretudo

quarta-feira, 20 de outubro de 2010


Nem miragem
Nem vertigem
Escrever é dever de ofício
Viver na voragem
Da viagem e do vicio

sabiás
o sabiá brasileiro
não canta mais na palmeira
nem na laranjeira em flor
ouvi um sabiá eletrônico
tagarelando em um português estropiado
em um inglês macarrônico
sobre a dor humana
e o “desfuturo” do planeta
ouvi outro sabiá
ventríloquo e altaneiro
imitando um astro de TV
e mais outro “breganeiro”
desafinado e rouco
gritando feito louco ao vento
uma sinfonia urbana
entre antenas enferrujadas
flores de cimento
e telhas de amianto
bem em cima de meu apartamento

segunda-feira, 18 de outubro de 2010





Minas e suas bandas
De música
Minas e suas bandeiras
De rusgas
Minas e suas bandalheiras
ocultas
suas partituras e ruas
Minas suas veias e músculos
Minas e suas meninas líricas
e únicas.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010


Noite Latina

trinta e três mineiros chilenos
emergem do centro da terra
como se de parto originário
brotassem as árvores e as pedras
os anjos e os bichos de todas as espécies
as cidades e suas maquinarias de tédio
as estrelas todas que povoam o universo

permaneceram no coração
do deserto de Atacama
durante muitas luas e muitos sóis
astros invisíveis aos olhos imemoriais

renascem por milagre ou sorte
por sortilégios da tecnologia
da poesia e da música
da arte de viver
como se de vento solitário fossem
a sua carne e o seu pensamento
e cavalgassem sobre si mesmos
com a leveza do tempo prisioneiro

entre Deus e o Diabo
os trinta e três heróis
operário de um tempo mineral
surgem de longa e solidária espera
da inexplicável fé no amor
confiaram no acaso
na eficiência da técnica
no sempre incompleto
conhecimento humano

só eles sabem o que sentiram
em suas fabulações oníricas
entre as paredes das noites
sem estrelas

o desejo de viver adiou a morte onipotente
o fantasma da solidão
no túmulo provisório

o mundo inteiro assiste ao vivo
em tempo real o resgate inédito
a versão da mídia

uma a um chega à superfície da terra
no útero da cápsula de metal
pisam a terra firme
recebem o carinho familiar
o beijo de Judas
atento e inoportuno
promete maiores alívios
deixa marcas evidentes

todos querem participar da trágica aventura
da bem sucedida empresa

por um momento os deuses pedem trégua
o universo pára de respirar
o canto de Pablo Neruda se eleva além dos Andes

a bandeira chilena ostenta o orgulho
latino- americano

“estamos bem no refugio os trinta e três”


o mundo continua sua acelerada trajetória de enganos
preso às fantasias de uma guerra surda e sem memória

sexta-feira, 8 de outubro de 2010



Pote: poesia e música de viola


1) Como surgiu a idéia de fazer este CD em parceria?


João Evangelista:

“Na realidade esse CD surgiu aos poucos. Eu já era parceiro do Pereira da Viola, há cerca de 20 anos. Em 1993, ele fez seu primeiro disco, no qual está registrado nosso primeiro trabalho de parceria, a música “Veio Caipira”. Eu conheço o Wilson há menos tempo nestas andanças pelo interior de Minas.Trabalhamos juntos , como jurados, no Festivale, na cidade de Bocaiuva, porém, só começamos compor em parceria a partir de um relacionamento mais próximo que se iniciou há cerca de três anos. Neste período já construímos um bom repertório, tanto pela qualidade , tanto pela quantidade. Uma delas foi Brasil Festeiro que está no Cd Vivaviola e também no repertório do CD Pote.. A parceria entre os três foi crescendo e numa conversa surgiu a idéia de se fazer um disco só com letras minhas. A coisa foi tomando rumo e pintou a música Sagarana Ana, depois Brasil Festeiro, Mulher de Argila e Sem Desatino. São músicas muito fortes e, ao mesmo tempo, têm conteúdo lírico, num universo bem de sertão, no sentido mais autêntico da palavra. A idéia da parceria veio dos dois. Eles queriam um CD que valorizasse a letra, o poema e a poesia. E, aos poucos, chegamos no “Pote” que é esse conjunto de quatorze músicas que mostram o sertão real, sertão ficcional e o sertão de cada pessoa. Eu considero este CD mais que um belo presente, uma surpresa”.

Pereira da Viola:

“Foi a energia do nosso encontro, porque até então a gente já vinha trocando idéias. Toda vez que encontrava com Wilson, a gente mostrava uma coisa que fez com o João. “Mas que negócio bonito, que coisa forte! Cumé que João consegue escrever umas coisa dessas”. Nesse ambiente várias vezes a gente se encontrou e o que rolava era música feita em parceria com o João. A energia forte, a afinidade maior parecia que estava nos três. Então o João começou a mandar poesia para gente colocar música. Tinha semana que saía duas, três, quatro. Chegou uma hora que eu falei: compadre Wilson vamos fazer um disco só de parceria com João?

João Evangelista:

Eu fiquei um longo período, - de 200 a 2007, em Arcos e, antes de voltar para Belo Horizonte, escrevendo muito, esboçando letras. Quando eu cheguei aqui eu comecei a revisar, separar as que eu achava que tinham potencial melódico e a deletar as idéias frustradas.Aí comecei a bombardear os dois ) Pereira da Viola e Wilson Dias - com letras, parecia que eu estava produzindo em massa, só que tinha muita coisa já escrita. No meio disso tudo tinha coisa nova também que ia pintando do relacionamento do dia a dia, dos questionamentos nossos. Nós temos temperamentos fortes, posicionamento político muito definido e os valores também em afinidade. Então são três pessoas que quando se reúnem sai faísca até na flor d’água. Não escrevemos porque queremos fazer música. – “Quando eu laço o boi eu cango, bato firme e não esfrego”, ou seja, a idéia da gente é de bater firme mesmo, escrever pra valer e tocar as pessoas pra valer. O resultado são letras fortes que revelam nossa identidade pessoal e coletiva.

Wilson Dias:

Eu ficava olhando os dois _ Pereira e João - um pouco de longe, observando, como naqueles namoro de antigamente. Quando nós nos encontramos a primeira vez mais intimamente, eu fui conhecendo as faces dos dois e percebi que ali não havia apenas três pessoas pensando em um projeto de fazer música, existiam três pessoas preocupadas em construir alguma coisa que tivesse realmente sentido e que retratasse realmente a nossa união e o nosso desejo de caminharmos juntos. Foi um processo tão natural que fica quase impossível definir como é que isso começou. Talvez isso tenha começado até muito antes do que a gente imagina, num outro plano, talvez até uma relação um pouco mais sagrada, talvez esse nosso encontro já tivesse sido determinado de alguma forma, é a única explicação que eu encontro. Porque o Pote? Talvez ai esteja essa explicação. É uma das coisas mais antigas da humanidade, é o barro de onde nós viemos.


2) Como foi o processo de criação deste CD?

João Evamgelista:

A “inspiração”.as informações, vêem das minhas origens. A minha identidade com o congado, com a religiosidade popular, com os rituais afro, que tive a oportunidade de vivenciar no Oeste de Minas. São sons e imagens colhidos de memória , da minha infância. Agora, o Pereira é do Vale do Jequitinhonha, Wilson do Vale do Mucuri e eu do Vale do São Francisco. São três vales e três energias. Minhas verdades estão lá. Meu primeiro presente foi uma enxada jacaré, quando eu tinha de cerca de 10 anos. Então nós temos essa experiência rural, os valores, uma identidade e uma visão política muito parecidas.

Wilson Dias:

A gente se encontra mesmo é quando olha para o passado e volta às origens. Essa coisa de encontrar e de dar um abraço é um “negócio” muito forte. Na verdade, são imagens desse passado, por isso este CD é um trabalho um pouco cinematográfico. Eu fico impressionado que tudo que nós colocamos nesse disco são palavras que, apesar da gente não ter convivido na infância, parece que o João estava escrevendo para a gente. É uma coisa absurdamente misteriosa.

Pereira da Viola:

Este CD descreve um espaço que é real e não só fictício. No contexto da criação em si, existe uma recriação do espaço, nós criamos um imaginário que tem a ver com o Grande Sertão Veredas, com o Drumond de Andrade e vários mestres da literatura. O João tem seu próprio caminho que dialoga com essas idéias e espaços. Do meu ponto de vista, é onde a gente encontra uma riqueza muito grande para se expressar através das melodias e dos arranjos. A palavra dele nos permite cantar. As letras dão asas para as melodias.

Pereira da Viola:

É o puxar de um fio de uma linha que está muito lá atrás, mas, é um trabalho extremamente contemporâneo. Eu acho que tem um fio condutor pra fazer esse link com a nossa ancestralidade africana. Ao lado da espiritualidade, tem uma coisa que é a amizade. Esse trabalho é o resultado deste nosso encontro afetivo e artístico. O que eu falo de doar, quer dizer que toda vez, por exemplo, que eu recebo um email com uma letra do João, eu encaro como um presente. Eu me lembro que na roça toda vez que você vai na casa de alguém sempre tem que levar alguma coisa e não é por uma questão de necessidade e sim de doação.

3) A música de viola está voltando com força?

João Evangelista:

Antigamente, a viola era uma música encarada como reacionária, atrasada. Hoje, estamos experimentando outros estilos e linguagems.A universidade já está estudando e pesquisando a viola caipira. Não se trata de voltar ao tempo das consagradas duplas caipiras que ouvia através do radio. As escolas de música estão ensinando viola.Trata-se de um processo de retomada da viola caipira, enquanto instrumento de composição, de acompanhamento e de concerto. Trata-se, sobretudo, de redescobrir e valorizar uma importante vertente das raízes da cultura brasileira.

Pereira da Viola :

Hoje nós fazemos parte de um grupo de artistas que mais movimentam gente fora do show business. Os violeiros são um grupo alternativo a esse cenário. E a gente lota teatros pelo país afora. Existe um calor e uma coisa efervescente em busca da viola. Há um interesse por parte da sociedade. É um instrumento que mostra a musicalidade do Brasil. Não é só entretenimento. Pra nós é importante que cada vez mais as pessoas assimilem a sonoridade deste instrumento. O movimento da viola é comprometido com valores, mas também fala de amor, da vida e da esperança.

Wilson Dias:

É um negócio interessante. Eu tenho visto um constante crescimento de um público muito heterogêneo. Isso importante para a viola, para o que ela se propõe. As pessoas saem encantadas dos shows que são feitos apenas com a viola. Eu fico impressionado, as pessoas estão redescobrindo a beleza e a magia da viola.

4) Como vocês definem musicalmente o CD?


João Evangelista:

É um disco que se define por um processo, no qual o lado profissional e o lado mágico se interagem e se completam. Este Cd nasce em um momento de maturidade artística dos três autores.Talvez por isso, tem uma amplitude que vai de Minas, passeando pelo Brasil e chegando ao mundo , via América Latina. Trata-se, nele, de um mundo particular sem perder a visão do coletivo e universal, como convém a uma obra de arte, digna deste nome.

Pereira da Viola:

É um disco que eu fecharia os e colocaria qualquer uma das 14 faixas e ouviria com prazer. Parece que a gente foi dirigido por se sabe lá que força ou intuição. São sete músicas para cada um dos violeiros/compositores, é um número interessante. Cabalístico. São músicas de várias formas, ritmos e estilos. Tem até samba rural.E tudo composto com a viola caipira, encostada no corçao.

Wilson Dias:

O CD tem alguns estilos. Brasil Festeiro começa com o ritmo de moda de viola e termina com um boi. Tem toada. Tem a música Sete Donzelas, que começa com um samba e depois vai para uma coisa meio caboverdiana. É essa mistura de coisas. Eu diria que tem muito samba no disco. A célula rítmica é o samba. A música também tem muito do clube da esquina, do auge desse movimento. É musica feita com viola, com certeza, mas que transita por estilos e épocas com os pés no presente e, porque não, com os olhos no futuro,

5) Como foi o processo de criação dos arranjos ?

Pereira da Viola:

Em primeiro lugar, a palavra do João nos dá o note e ,em segundo,canta a viola,. O que me moveu mais foi a palavra. A gente está dialogando com Guimarães Rosa, Drumond, entre outros mestres. A primeira coisa é ressaltar a palavra. Nós queremos que as pessoas escutem a palavra, sobretudo, a palavra poética do João Evangelista Ela chega para as pessoas como um processo de amaciamento das melodias. A viola vem para facilitar a compreensão da letra.


Wilson Dias:

A gente tentou recriar muitas imagens, fazendo com que as melodias apresentassem a coisa cinematográfica da letra do João. A viola já está inserida no contexto social da cultura popular e existe uma grande possibilidade dos outros ouvirem com carinho. Esse casamento foi perfeito. Mesmo o cidadão que nasceu nas metrópoles consegue entender essa vivência que a gente passa. Eu vejo o Brasil bem rural, apesar das grandes cidades, especialmente em Belo Horizonte.

João Evangelista:

Outro dia uma pessoa disse na televisão que o sertão não existe mais, que ele só está nos livros e na cabeça dos pesquisadores, nas bibliotecas universitárias. Estes são os lugares mais imporváveis pra se encontrar e conhecer o sertão que conhecemos de perto, de origem e que cantamos aqui. Mas, quer mais sertão soturno do que a solidão de cada um no turbilhão das megalópolis.Outro dia em um filme estrangeiro falaram do sertão. Mas, o sertão não é só montanha e sol. Rio, vereda, bicho e passarinho. É isso também. `Pode ser. Sem dúvida, a angústia, a solidão e o medo de uma pessoa frente a outra. A violência institucionalizada, o excesso de.O inexplicável cotidiano das multidões cegas de poder e de desejo . As pessoas não têm tempo ou não querem pensar. E no sertão o que mais se tem é tempo, reflexividade, interioridade, mistério e busca de sentido para a existência em si mesma a feito de rio. Coragem no sertão tem outro nome: é vida em estado puro de pedra e sol , de água e vento.

Pereira da Viola:

Na viola tem umas “coisas de arranjos” que são inovadoras. Trazemos para o disco alguns elementos pessoais. O Wilson também está trazendo umas formas diferentes, que remete â música da noite, as folias, os bailes e umas nuances da melodia da viola própria com elementos desconhecidos de tudo que há de viola por aí, atualmente.E uma concepção de viola bem sofisticada e atenta ao movimento de nosso tempo.

6) O que as letras do Pote revelam ?

João Evangelista:

A letra é aparentemente simples, com elementos rurais e com muita intertextualidade com as músicas populares e folclóricas. Dialogam com poetas e pensadores contemporâneos;É ocaso de Leonardo Boff em Pachamama e de João Guimarães Rosas, em Sagarana-Ana. Ouço de que bom, sem preconceito: MPB, Jazz. Blues,rock, música clássica , contemporânea e experimental e,claro, a boa música de viola. O que escrevo pra música tem a mesma linhagem poética ligada à tradição literária e a busca comprometida e crítica por uma estética encarnada na vida do homem de nosso tempo , do qual sou parte e cúmplice.

Pereira da Viola:

O Pote traz uma estrutura literária sofisticada, rica, de um valor importante para as pessoas prestarem atenção e rever alguns conceitos de literatura mineira e brasileira. Foi definido que a música seria feita para valorizar a palavra poética do João. Do meu ponto de vista é um disco necessário para os dias de hoje. Eu dei o que há de melhor dentro de mim para esse disco, de buscar na viola determinadas riquezas que não tenho em nenhum outro disco meu. A poesia do João serviu como eixo em torno do qual se desenvolve toda a riqueza musical do CD.

Wilson Dias:

É um disco que nós optamos em fazer tudo, desde o repertório, estúdio, gravar, mixar, colaborando um com o outro. A gente deixou fluir, vazar, derramar o que a gente estava sentindo. Quando se tem esse zelo ao fazer, as coisas ficam mais fáceis. Foi um processo muito natural. Coletivo, feito por uma trindade unificada pelo sonho e animada pelo desejo comum de criar , de presentear as pessoas com esse misterioso pote pleno de água e de melodiosas palavras..

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Oi João, como vai?

Não fique muito desiludido com tanta porcaria que nos rodeia? Eu estou sem palavras para manifestar o meu repúdio a tudo isso que está acontecendo como essa votação esdrúxula do Tiririca que sinaliza essa tomada de atitude que você tão bem definiu. Protesto? Insatisfação? Desencanto? Acredito que seja uma mistura de tudo isso, mas que é doloroso para a gente é.
Mas cada povo tem o governo que merece e na era Lula acho que ele é o que melhor encarna o resultado de estarmos governados por um analfabeto de pai, mãe e parteira........
Mas sempre é bom receber seus textos e saber como vai.

Receba um abarco e o carinho da Maria

terça-feira, 5 de outubro de 2010


Não atirem! Não atirem pedras no Tiririca.
João Evangelista Rodrigues
O povo sabe o que quer. O povo não sabe o que quer. O leitor pode escolher qualquer uma das duas afirmações para seguir comigo neste breve texto. A questão é a expressiva votação recebida pelo palhaço Tiririca, de trânsito global. Di palhaço, no sentido profissional, carreira artística que escolheu por vocação, necessidade, luta pela sobrevivência ou inapetência mesmo para qualquer outra atividade que exija o mínimo de lucidez, ou preparo técnico, ou intelectual. Isto só Deus e o próprio Tiririca sabem!!
Se o povo souber o que quer, a análise sobre este fenômeno eleitoral, que abalou o coração da mídia - se é que ela tem este órgão vital para a vida humana - e a prepotência das elites brasileiras, segue uma direção. Se o povo não souber, a perspectiva de entendimento da coisa, vai por caminhos bem diversos.
Sei que o leitor/eleitor não é burro nem insensível como tantos que se arvoram em analistas e, por isso, deixo que ele mesmo se posicione. Apenas lhe dou algumas pistas. Um pequeno método para refletir, ele mesmo, sobre o que ocorrido fato que chamou a atenção do mundo inteiro.
Primeiro, procure enumerar todos os absurdos, falcatruas, casos de corrupção, brigas e agressões que ilustraram a vida do Congresso Nacional nos últimos anos. Só o que a mídia noticiou. Nem precisa ir mais longe nem ser um gênio para se descobrir o grau de descrédito de certo tipo de candidato de ficha nebulosa e relativizar o valor da democracia, em um sistema de poder fundado no patrimônio financeiro, no poder da mídia e, pior, na ignorância e bonificação programada da sociedade, em termos educacionais, políticos e culturais.
Segundo, tente recordar as formas como o personagem, não o cidadão Tiririca, aparece na televisão. O que fala? Como age? O que defende....se defende alguma coisa. Aproveite este raro momento de reflexão e enumere os reis e heróis, mulheres melancia, éguas pocotós e outras “esteritas a mãs”, que chegam via mídia em todas as casas, disse casa, não lares, brasileiras, dia e noite.
Soma-se a isto o “besterol” derramado por uma chusma de candidatos claramente despreparados durante a recente campanha eleitoral.
Claro que não exporei, aqui, as minhas conclusões. Para terminar – hoje em dia, poucas pessoas conseguem ler mais do que cinco linhas sem reclamar - podemos simular duas hipóteses, ambas consistentes: se o povo sabe o que quer, teria votado no Tiririca, para mostrar o quanto de palhaçada existe em torno das eleições, em tempo de partidos gelatinosos, de individualismo selvagem, de sarcasmo e cinismo com relação a tudo o que diz respeito à vida e às coisas do próprio povo.
Se o povo não sabe o que quer, por já estar manipulado ao extremo e exausto de acreditar no futuro e lutar para promover as mudanças estruturais via Congresso, portanto, já perdeu o senso, porá em cheque a validade de todo o processo democrático. Não só a eleição do Tiririca, pois, semelhantes a ele, em vários outros ramos de atividade profissional, existem tantos que foram eleitos por serem ídolos das massas, herdeiros do poder e fiéis defensores das elites. Seríamos todos palhaços? Se mirarmos bem, cada manhã, no espelho da realidade nacional, com certeza, descobriremos quem somos e porque o Tiririca foi o candidato – o personagem – mais votado destas últimas eleições.