sexta-feira, 18 de junho de 2010




os atletas se benzem
nos estádios
sonham vitórias invencíveis


Deus dribla os heróis
Brinca com suas bandeiras
domina a bola da vez
a seu bel prazer
impõe-lhes derrotas invitáveis

a torcida grita
delira
chora
Deus continua em silêncio

o universo é um imenso campo vazio


não há surpresas na morte
em si
na morte de ninguém
de nenhum ser no universo
desde o início
avisa de sombra em anúncios
a fúnebre ocorrência
apenas fingimos não ver
ignoramos o idioma letal

todos somos condenados
apenas adiamos nosso entendimento
sobre ausências e despedidas
agarramos a qualquer migalha
qualquer distração nos alimenta

não há regras no jogo contra a morte
sempre vitoriosa
não há ética nem equidade
no olhar da morte não há compaixão
nem esperanças
a morte em si soberana de todo o universo
não há surpresas

quinta-feira, 10 de junho de 2010


copa do mundo

o mundo todo doido
de olho em Jabulani
veloz mais que um gato siamês
sem voz
lua de lã
lúdico animal feroz
anjo de couro cru
monstro de pano
redondo jabuti na lama
a bola rola
a gorduchinha da vez
corre para
sobe desce
bate rebate rebola rebumba
balança a bunda do atleta
escapa impune
no balé dos astros e dos deuses
dribla o bobo da corte
engana o zagueiro
o goleiro engole o gol em seco
o grito da torcida aflita retumba
o choro dos humilhados
dos desde e para sempre
perdedores
inunda o estádio
cheio de falsas esperanças
elefante branco na clareira
da floreta nua

Jabulani se mistura
a tudo que é gente e bicho
a tudo que é lixo e luxo
no fundo da rede
presa feito peixe fica
o coração disparado
se ilude
o mundo todo de pé
de joelhos
se benze
reza
faz feitiço
comunga pão no circo
no parque de diversões
no decurso dos políticos no palanque
faz tremer o altar de afrodite
no mágico ritual das coisas surdas

Jabulani ri
ao som ensurdecedor
das vovuzelas
mais alto que as estrelas
que as cornetas do juízo final