terça-feira, 26 de setembro de 2006












cronema

tempo mu(n)do se conquista
exata espera
um dia um ano ensinam muito
muito se muda
de flores e vento a primavera

segunda-feira, 25 de setembro de 2006


calo
de pedra como de fato urge
a palavra pedra no útero da urbe nasce
em arcos de trunfos e tristezas
reverbera a máquina muge
como de dentro do túmuloo dente se arrebenta
quando o eco do vento ecoa
no ventre da fera ferve de cal virgema ferrugem das ruas
das rugas
quando a palavra calcária fere de pronto
a fronte branca do dragão sem cérebro
quando de raiva o gigante imberbe apita
bebe baba grita cava oscila
contra o nada
vocifera


Política não é isso mesmo
Tempo de refletir e mudar
.

Quem se der ao trabalho de consultar o dicionário, um tratado de filosofia ou qualquer obra do gênero verá, com surpresa, que política não tem nada a ver com o que se fala e se pratica hoje em dia no Brasil. Lá se foi o tempo dos grandes estadistas, das pessoas cultas e éticas, de um certo tipo humano - em via de extinção - que se destacava, ganhava prestígio e conquistava respeito pela coerência e labor com que se dedicava à causa pública. Sempre foram raros, é verdade, mas distinguiam-se .Faziam a diferença. Suas ações, norteadas pelo compromisso e pela sabedoria política, exerciam influência e transformavam positivamente o perfil do país. Suas vozes ecoavam e eram ouvidas nos longes com a mesma veemência e força dos que lhe estavam próximos.
E , agora, que as eleições estão cada vez mais próximas, sentimos falta destes senhores e senhoras respeitáveis e honrados, candidatos merecedores , de fato, da confiança e da preferência dos eleitores. Nem pára-quedistas, nem oportunistas, nem carreiristas, mas políticos coerentes e conseqüentes. Onde estão eles? Em quem votar? Para que votar? Só para ficar em dia com um lei anti-democrática, que transforma o sufrágio universal, a liberdade de escolha, em voto obrigatório. Seguirá o eleitor o que dizem as pesquisas? Ou ainda há tempo para reverter esta triste e crua e triste realidade política brasileira.
Tenho por mim, que a voz do povo, nem sempre, é a voz de Deus. Penso mesmo que, existindo Deus, ele não perderá uma mínima parcela de sua santa e infinita sabedoria e eternidade, metendo a mão nesta cumbuca de falcatruas , negociatas, de cinismo e de corrupção que se tornou a vida nacional.E o pior, com o aval de significativa parcela de artistas, acadêmicos e intelectuais, até então, considerados a antena da raça, a reserva moral e a voz da consciência sócio-política e cultural. Quem não se lembra das grandes mobilizações e manifestos de peso encabeçados por ele. Arriscaria a repetir o que já disse há alguns anos: o advento do neo-liberalismo, do marketing cultural e das leis de incentivo - tudo gato do mesmo saco - prostituiu e desintegrou a classe artística em nome de um falso profissionalismo. A arte de arte virou mercadoria e o artista um empresário de meia tigela. E entre a obra de arte e o público, floresce a grotesca figura do agente cultural, uma espécie híbrida de atravessador e de gigolô da criatividade alheia. Assim é o mercado, Deus me livre!
Já os resultados das recentes pesquisas eleitorais dão margem a outras interpretações, além de revelar a vantagem do candidato a reeleição à presidência na intenção de voto do eleitorado brasileiro. Seria correto, por exemplo, afirmar, a partir destas pesquisas, apesar das técnicas de amostragem e das margens de erros, metodologicamente previstas, que as próximas eleições seriam definidas pela massa de miseráveis que habita as periferias, as favelas, as palafitas, guetos e viadutos que assustam o país. Seria o voto a arma mais eficiente dessa ampla camada da população brasileira para concretizar uma vingança historicamente engendrada? Mais forte que a violência dos assaltos à mão armada, dos seqüestros. Do roubo sistemático de carros, da máfia de políticos e do crime organizado? Seria vingança ou justiça social contra a mínima elite entrincheirada nos grandes conglomerados industrias e financeiros, nos condomínios de luxo e carros blindados? Qual será o peso da chamada “classe média” nestas eleições? Nulo, alienado ou vendido, como sempre pelo preço vil, as migalhas que sobram da mesa elegante e farta dos poderosos? E saber que esta “misere” foi gerada ao longo de várias décadas por uma elite renitente, conservadora, arrogante e gananciosa.
Alguém poderia argumentar, e com razão, que os resultados das pesquisas também podem ser fruto da ignorância e da necessidade de milhões de brasileiros à margem do processo produtivo e do consumo de bens matérias e culturais. Pode até ser, já que o analfabetismo e a ignorância são produtos da mesma política autoritária, populista e manipuladora. Seja qual for o argumento, o certo que esta é a realidade mais triste de um país sem perspectiva e sem esperança. Mas os resultados dizem também que nem sempre a maioria tem razão. Haja vista o que aconteceu nos regimes facistas e nazistas. A experiência tem mostrado que o regime democrático só pode ser saudável, quando se desenvolve no mesmo terreno e no mesmo ritmo em que florescem a justiça social, a educação e a cultura.
Foi este quadro deprimente de crise ética, política, educacional e cultural, que levou o Senador pelo estado do Amazonas, Jefferson Peres – não confunda alhos com bugalhos, isto é, com o outro Jéferson, o Roberto que, nem mesmo gostaria de citar aqui – a fazer um pronunciamento trágico e contundente. em 30.08.2006 no plenário do Senado Nacional. No seu pronunciamento, o Senador revela toda a sua angústia desilusão com a classe dirigente, sua decepção com boa parte dos artistas e intelectuais.Anuncia, ainda e anuncia sua despedida da vida pública e promete continuar sua luta, como cidadão, em outras trincheiras como a imprensa.
Assim se expressa o nobre Senador “ a crise ética não é só da classe política, não. Parece que ela atinge grande parte da sociedade brasileira. Ele vai voltar porque o povo quer que ele volte. Democracia é isso. Curvo-me à vontade popular, masinconformado. Esta será uma das eleições mais decepcionantes da minhavida. É a declaração pública, solene, histórica do povo brasileiro deque desvios éticos por parte de governantes não têm mais importância.Isso vem até da classe dos intelectuais, dos artistas. Que episódiodeplorável aquele que aconteceu no Rio de Janeiro semana passada! Artistas, numa manifestação de solidariedade ao Presidente, com declarações cínicas, desavergonhadas! Um compositor dizer que "política é isso mesmo, fez o que deveria fazer", o outro dizer que "política é meter a mão na 'm...'"! Um artista, em qualquer país do mundo, é aconsciência crítica de uma nação. Aqui é essa, é isso que é a classe artística brasileira, pelo menos uma grande parte dela, é o povo conivente com isso”.É lamentável que políticos conscientes não suportem as pressões e abandonem seus postos dando lugar cada vez mais a pessoas despreparadas política, ética e culturalmente, dispostos a negociar com toda o tipo de bandidos, aproveitadores e delinqüentes de toda a toda a laia, salvo, é claro, às raríssimas exceções.
Há quem diga que a ignorância é cega, surda e muda. O pior é quando um país faz do estado da ignorância uma forma de ser para beneficiar os mais espertos e sem escrúpulos. Em países assim, como este momento lamentável por que passa o Brasil, não há lugar para a primavera, nem para a esperança.Neles florescem a omisao de quem vê, o silêncio de quem ouve, a conivênia que quem fala. No lugar da alegria e da vida prevalecem a trágica arrogância dos poderosos e dos cínicos. A palavra justa perde seu lastro concreto e o sufrágio universal, sua áurea de democracia e liberdade.
Pelo sim e pelo não, política mesmo é dimensão mais séria e sagrada da expressão da vontade e do desejo humanos.

sábado, 23 de setembro de 2006



não sou anjo
nem azul

sou de carne e osso
torto por convicção

pasto sem pluma
sem métrica

vôo sem rumo
não levo nada no dorso

sou américa do sul



retórica

política é isso mesmo

política não é isso
mesmo

política não
é isso mesmo

política não é isso

nem toucinho
nem torresmo

meio texto
meio termo

meio livre
meio preso

meio liso
meio crespo

meio lince
meio leso

meio triste
meio ermo

política é risco
não é riso a esmo

política não é isso mesmo

sexta-feira, 22 de setembro de 2006


não apresses tua primavera
o setembro ensolarado
no calendário virtual
espera cada flor se abrir
no tempo exato
como o corpo desabrocha
em tímidos avisos
em noites e manhas desinteressadas
não apresses teus passos
para o amor
para o jardim que te espera

a primavera é paisagem

necessariamente secreta

terça-feira, 12 de setembro de 2006


Vestígios do fogo x

Vestígios do fogo Ix

Vestígios do fogo VIII



Vestígios do fogo VII


Vestígios do fogo VI

Vestígios do fogo V

Vestígios do fogo IV

Vestígios do fogo III

Vestígios do fogo II

Vestígios do fogo

Exposição Fotografia II

Paradoxos contemporâneos
Ainda é possível ser feliz.

O homem vive, atualmente, estranho paradoxo. Depois de romper as fronteiras das ciências e das tecnologias, debate-se em uma crise de identidade e ética sem similar na história. Nem mesmo o período do pós-guerra, anos 50 e 60, foi tão enervante e cruel como o que se vivencia neste momento. Se naquela época predominava a descrença com relação às instituições e à generosidade do homem, havia , por outro lado, uma boa dose de consciência social, de rebeldia, de luta ideológica e de contestação política e moral. Angustiados, tristes ou rebeldes , cada grupo lutava para superar as limitações e propunha alternativas, modos de vida diferentes, posturas marcantes e e combativas diante das atrocidades da guerra, do imperialismo e das injustiças sociais. Acreditava, ainda, no poder de mobilização, organização e transformação social. Este sentimento e esta certeza geravam novas formas de relacionamento e de solidariedade afirmativos e saudáveis. Sentia-se que o homem, ser social por essência, estava vivo e palpitante. Pensava-se.Sonhava-se. O conforto era menor e menos as bugigangas chinesas contrabandeadas via Paraguai. Não havia, ainda, a Internt, nem a LER nem a Aids. Drogas, só para grupos privilegiados, mesmo assim mais leves e com nítida conotação de protesto e posturas alternativas. “Quem não tem colírio, usa óculos escuros”, cantava o Raulzito.
Certamente, não havia shopping-centers, sexo virtual, super-mercados. Os anti-depressivos eram raros e cuidadosamente medicados nos casos estritamente necessários.Não distribuídos a granel, “até para galinhas”, como panacéia para todos os males. Agrotóxicos, poluição, mensalão, máfia das combes, seqüestros, tudo era motivo de escândalo e repulsa por parte da sociedade. Máfia e crime organizado , só nos filmes americanos. Havia poucas universidades, mas se preocupava muito com a formação humana e ética, além da formação técnico-profissional. Havia pouca rede de esgoto nas cidades e menos favelas. Era o tempo do “topa-tudo” e da conga. Tênis e carros importados, nem pensar. A água não era tratada e ainda se tomavam lombrigueiros. Respeitavam-se os pais, os professores, o padre e demais autoridades. Amigo era mesmo coisa para se guardar no lado esquerdo do peito. A amizade e o amor eram nobres sentimentos.Poucas coisas eram descartáveis. Colecinavam-se marcas de cigarros, selos e LPs, aqueles discos grandes com fotos bem feitas e textos bem escritos, produzidos com gosto, arte e cultura. Havia poucas opções de lazer, de consumo, de entretenimento, mas todos acreditavam, desejavam e buscavam a felicidade, motivo maior da vida e da existência humana. Não o consumo pelo consumo. Não o objeto pelo objeto.O luxo pelo luxo, a luxúria. A reconfiguração sem limite do prazer e da competição desenfreada.
Em (torça) multiplicam-se as doenças, as drogas, as inimizades entre homens e países, as guerras, os acidentes automobilísticos. A morte e vida se igualam em vulgaridade e banalização.
Afogado nas maravilhas e facilidades do conforto contemporâneo o homem quer viver tudo, a qualquer preço, a qualquer custo.

Configurações cada vez mais arrojadas. Acrítico, soterrado de informações, mas sem conhecimento e sabedoria, o homem contemporâneo mergulha”de ponta cabeça” no consumismo e no individualismo, de matriz neo-liberal. Segue obediente , cego e mudo os ditames e insinuações da mídia cada vez menos comprometida com os valores e o bem estar da sociedade e cada vez mais concentrada, em nível mundial, nas mãos de poucas pessoas.
Tudo isso acontece com o meu, o seu, o nosso consentimento explícito ou tácito, seja por comodismo, por modismo ou por mera comunhão de estilos, de pensamento e de interesses.
Daí, o grande paradoxo contemporâneo.. O homem-comsumismo, o homem máquina de produzir e destruir sabe o que é felicidade. Saberá o homem contemporâneo que, por um longo período da história ocidental, a felicidade era colocada com o fim ultimo do humanidade, um fim a que todo homem em particular desejava atingir? E o que é ser feliz, mesmo sabendo-se limitado e provisório? Será correr a mais de duzentos por hora e morrer na primeira curva do asfalto, maquiado para o funeral, pintado de escuro. E como diz a canção popular de um certo e talvez já esquecido Sidnei Miler, “se você tem pressa que arranje um carro” Compre depressa tudo o que puder, música brega, tv de plasma, um bazar barato, tudo isso, “Pois é, pra quê?
Sem falso moralismo ou chateação , quero lhe perguntar, caro leitor, cara-a-cara, olhos nos olhos: será que, em meio a tantos paradoxos e contradições o homem contemporâneo anda poderá viver feliz?

sábado, 9 de setembro de 2006


nunca fui romântico

na fase adulta
por descrença

em nenhum momento
por conveniência

na adolescência
nunca bebi
em sonho
o oceano Atlântico

sou anti-romântico de nascença

sexta-feira, 8 de setembro de 2006


aqui o mar é de pedra
de pedra branca
no horizonte fluvial
de pedra sabão
sob os pés lacustres

mar-amor
é confidência
pura imaginação
soe de verde acontecer
em mar de enigmas
são os mares de Cabral
canavial sem fim
as embarcações de Maria Helena Andrés
a fora isso
o mar de Minas é triste névoa
constelação de montanhas
liberdade tardia
furacão de asas
boiada arribada
chifres e ancas
cascos cintilantes
no cascalho da Estrada Real

anjos de Guingnard
entre nuvens ondeantes
vendaval de sinos e torres
memória
traição
paisagem secreta

há quem diga
não exista mar em Minas
nem mesmo Minas existiria
sentencia de Minas o Poeta