quinta-feira, 21 de dezembro de 2006



tudo de passagem
de pedra
a paisagem estreita
o pássaro
a mina
a mira
o avião
o paraíso mínimo
a miragem

tudo de passagem
ouro de aluvião falsa viagem


Deputado não é Deus
A vergonhosa saga dos deputados
que venderam a alma ao diabo na véspera do Natal para aumentar o valor
de seus vencimentos à custa do povo brasileiro.



Aos homens, mulheres , crianças, meninos e meninos de bem que animam e trabalham pra reconfigurar as tristes feições do Brasil desde sua invasão ou achamento.; Aos rios e pássaros, às aves. Paisagens e passageiros que habitam os desvãos e deslugares na desordem do mapa real do Brasil. Abaixo o progresso a qualquer custo .Viva a liberdade,porque já é tarde da noite e a madrugada em breve virá ao som das chuvas de dezembro.



.
João Evangelista Rodrigues
Arcos, dezembro de 2006

pelos deuses do planalto
pelo grão sol do cerrado
pelo que voa mais alto
por quem não fica calado
com o tempo aprendi
me dê força São Vidente
pra vencer esta serpente
com cara de deputado


me dê força e harmonia
me dê verso bem marcado
pra vencer a apatia
pra ver o povo acordado
com o tempo descobri
o voto é muito importante
voto em meu louro falante
mas não voto em deptado


quando eu era criança
pensava que deputado
era ser de confiança
justo gentil e honrado
com o tempo descobri
o Brasil não tem futuro
nasceu em Porto Seguro
hoje é um barco furado

deputado, para mim,
era doutor estudado,
sabia a causa e o fim
de um país bem governado,
com o tempo descobri
o Brasil não tem mais jeito
e o seu maior defeito
é o tal de deputado



o tal chegava a cavalo,
a pé de carro emprestado,
só o que vi é que falo
por isso não falo errado.
Com o tempo descobri
era tudo hipocrisia,
era tudo picardia,
desse tal de deputado

Se um deputado chegava
no meu calmo povoado,
todo o povo festejava
tinha até papel picado.
Com o tempo descobri
que ali o melhor palhaço
será sem desembaraço
o besta do deputado.



Pra encurtar a conversa,
ando muito chateado.
Vou direto ao que interessa
senão morro sufocado.
Com o tempo descobri
todo o poder do dinheiro
faz mover o vespeiro
onde esconde o deputado.

Recordo bem seu sorriso,
era bem apessoado,
usava terno bem liso,
um vozeirão empostado.
Com o tempo descobri,
lá na casa de meus pais
dizia coisas banais,
comia feito um capado.


Depois vem o desemprego,.
violência e mau olhado
Vem a falta de sossego
tem ladrão por todo o lado.
Com o tempo descobri,
ladrão é quem faz a lei
pra servir a um só rei,
esse tal de deputado.

Depois vem a mordomia,
o cinismo, o embuçado,
a traição, a covardia,
todo o crime organizado.
Com o tempo descobri,
o Brasil está doente,
faminto doido e sem dente,
por causa do deputado.




Depois vem a ambição,
pelo que sei é pecado.
Impunidade e perdão
para quem é mais culpado.
Com o tempo descobri,
salvo alguma exceção,
o maior bicho-papão
do Brasil é o deputado.

Veja só o que ele fez
com relação ao salário.
Trabalha pouco por mês,
como todo o salafrário.
Com o tempo descobri,
não há país que agüenta,
salário aqui só aumenta
no bolso do deputado.

Só não cresce a consciência ,
o povo anda avexado
com tamanha incompetência,
tanto roubo refinado.
Com o tempo descobri,,
é mais fácil dar pinote
beber água de dez potes,
do que ser bom deputado.

Só não cresce a liberdade
de ser bem alimentad.o
Cresce o crime na cidad,
a morte, o medo macabro.
Com o tempo descobri,
viver não é perigoso,
maior e mais vergonhoso,
é ser como um deputado.

o governo é conivente,
pois defende o seu babado,
populista inconseqüente,.
foi eleito ou foi comprado
Com o tempo descobri,
vida boa é de mendigo,
pois não tem falso amigo,
nem amigo deputado.


Foram quase cem por cento,.
quase o dobro do passado
Deputado não é bento,
é xucro e esfomeado .
Com o tempo descobri.
Trabalhador não tem vez,
dá duro durante o mês,
pra sustentar deputado.

Quando eu era criança
pensava que deputado
era gente de sustança,
era homem refinado.
Com o tempo descobri.
Salvo alguma exceção,
ninguém é mais canastrão
que o tal de deputado.

Tem uma cara de pau
que deixa a gente possesso.
Pede voto ,pede aval,
passa a vida no congresso.
Com o tempo descobri.
Salvo alguma exceção,
ninguém é maior ladrão,
que o tal de deputado.




Eu agora me despeço,
caro eleitor, mais cuidado.
Veja o que diz o meu verso,.
em tom sério e bem rimado
Com o tempo aprendi.
O valor da poesia
vale mais que valeria
o que fala um deputado.

Ele promete e não faz,
e o povo fica calado,
parece até satanás,
diante de deus louvado.
Com o tempo aprendi
a viver sem fantasia.
Congresso e casa vazia
é pensão pra deputado.

O que pensei tá escrito,
conforme deixei gravado.
O poeta é um proscrito,
não segue a lei do mercado.
Com o tempo descobri.
Prefiro ver o capeta
pra dizer ao pé da letra,
do que ver um deputado.

Quando eu era criança,
hoje me sinto vingado.
Quem espera sempre alcança,.
mas o povo está cansado
Com o tempo descobri.
Pelo sim e pelo não,
pra salvar esta Nação,
tem que prender deputado.
...

Nota: João, li o texto que mais uma vez é excelente e o corrigi, mas não pude colocar a correção em vermelho. Coloquei apenas vígulas e pontuação de acordo com o ritmo dos versos.Espero que goste.Abraços da Maria

sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

uma parte de mim
fantasia
outra parte
sentimento

uma parte de mim
arte e pensamento
poesia
dor por dentro

por fora
falso descobrimento

uma parcela
percebo no escuro

no vento bebo
aventura e tempo
paisagem de letra e gravura
fermoso invento

um pedaço de mim
não tem conserto
sem consolo se evapora
perdeu-se ma viagem
de leitura em desleitura
nunca mais se cola

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

paralelismo


os homens andam em paralelas de infinitas tramas

curvam-se com suas dores invisíveis
nunca se encontram

armas e auras
negócios e ócios

olhos e óbces
ópios e óculos

ocos e óbvios
seios e ancas

sapos e cobras
homens e antas

lutas e lutos
luas e sombras

perdas e danos
ledos enganos

pedras e pedras
muros e ramos

tristes tiranos
tigres humanos

rezas e ramos
rosas urbanas

mapas e mandos
sagas de sangue

partes e portais
partos e prantos

sábios e santos
sóbrios nem tanto

bandas e bancos
surdos e mancos

ricos e pobres
órfãos e manos

cartas e contas
camas e coma

mares e montes
mortes e mantos

lucros e sobras
furtos e famas


nunca se encontram
curvam-se sob o peso de suas dores risíveis

os homens andam em paralelas infinitas e infames

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

não inveje a alegria dos homens
na maioria das ocasiões
soam falsas suas gargalhadas
não dependa da companhia deles
para viver em paz
a maioria deles nunca o verá
não o ouvirá jamais o seu apelo
passe a largo quando ouvir um burburinho
um comício um pregão
um elogio que seja
tente ser feliz em sua minimitude

homens – de qualquer estirpe – são eloqüentes
jamais moverão uma palha
para lhe consolar em suas angústias e aflições

não se iluda
não busque a manhã nos domínios humanos







declaro
para os indevidos fins que isto não é mais um manifesto poético
não é mais um artigo de luxo
da declaração dos direitos humanos
da constituição brasileira
é simplesmente
uma declaração sem fins lucrativos
uma declaração de princiipicios
declaro portantoque o poeta não é santo ben satabáz





em nome de todos os deuses
de todos os continentes
desertos e abismos
que a poesia está morta nos cartórios
nos tribunais
nos clubes sem esportiva

nos bancos das universidades
que o poeta é um asno que voa
que o livro não é objeto de
primeira necessidade
é uma coisinha a toa
uma canoa no museu
uma leoa no cio
um tambor que não ressoa
que é proibido proibir
meninos e meninas
menores e maiores
internautas inteligentes
intelectuais sem classe
de todas as idades
freqüentar lugares suspeitos
feito livrarias e bibliotecas
declaro que bares e igrejas
praças e jardins
rodoviárias
hospitias e aeroportos
motéis e postos de gasolina
são iguais
em qualquer parte do mundo
do planeta sujo e mal divido
em versos e muros de arrimo

que a verdadeira poesia
é livre e obscena
em plena luz da ironia
que e indiferente a todo poder
a qualquer geografia
ameaça a integridade física dos cidadãos de bem
a moralidade púbica
que o poeta é um perigo para a sociedade
explora
rouba
estupra
assassina
bagunça o coreto
a linguagem defunta o
a sonata e o soneto
destrói florestas
muda o regime das águas
o curso dos manda-chuvas
o sentido dos rios
queima florestas e mapas suburbanos
é desumana e cruel com as palavras de consumo
subverte cidades de letras
ocultas nos dicionários de rimas
de infâmia e intrigas universais
invade terras baldias
recicla o luxo o lixo do redizer
cultiva urtigas
apropria indevidamente do lucro do resíduo das fábricas
das usinas nucelares
do que sobra nas mesas das delites
nos corredores das universidades
o poeta é um perigo
comete suicídios cotidianos
atentados contra o pudor
coloca bombas no coração das pessoas de boa vontade
domina submete o sistema de signos
defende a luta a mão armada de versos
não tem Bandeira
somente o Manuel
para salvar o poeta de barro das dores e prazeres
do inferno
das glorias e mesmices do eu
das delícias do céu
declaro
que por estas e outras
cem razões irracionais
o poeta é um perigo
para ele
para a gramática
para a máquina impressora
para a professora de literatura
para a literatura infantil
para seus semelhantes replicantes
para os macacos e elefantes
para o mundo das letras
para todo o que for de terno
e efêmero
o sol
o tempo
o horizonte
para todo o que for belo
e inconstante
é claro
o poeta é um perigo
declara o poeta ao seu umbigo
ao rei
da cocada de toda a cor
ao poema
a outro poeta sem juízo
ao juiz
ao crítico
ao louco
ao lírico
ao povo
a todo ser morto
a todo ser livre
declara o poeta ao vivo
ao seu melhor inimigo

o poeta é um perigo


Que maravilha! bendito seja o poeta e abençoada seja a sua poesia, pois ela a subversiva mor é que sustenta a bendita loucura humana sem a qual todos não serímos nada mais do que um grão de poeira perdido no caos. Um beijo da Maria Lucia

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006





um poema
não se ganha no grito
nem maior amor
nem mais bendito
poema é rito
plumagem
mito oculto na linguagem
após o grito de gol
de guerra
após de pedra fundar de sangue e sol
a idade do ouro
do sonho
a ambigüidade da vida

não se vence no grito nenhum abismo
não se abre no grito
os lábios
a porta do poema nenhum labirinto
debaixo do guarda-chuva
o homem não tem rosto
as penas os pés se movem
sobre o paralelepípedo

seria um homem comum
a sombra que se move
debaixo do guarda-chuva

seria algum doutor
ou simplesmente mais um
o vulto que se move
debaixo do guarda-chuva

os sapatos pretos não deixam marcas
de vez em quando os braços
pedaços dr corpo se revelam

pelo ritmo dos passos
o homem tem pressa
de não se ser feliz
de não se chegar a lugar nenhum

um homem sem janelas passa
diante de meu nariz
debaixo do guarda-chuva

domingo, 10 de dezembro de 2006




unar

hoje morreu Augusto Pinochet
anunciam os jornais do mundo inteiro

nenhuma honra
nenhuma lágrima
nenhuma glória
nenhum pesar
nenhum lamento

somente um sorriso de ironia
nos lábios das viúvas
alegria incontida no coração dos órfãos
dos jovens no jardim das ruas
um crispar de onda bravia
nos mares de Isla Negra
a liberdade trêmula de júbilo
nos bairros de Santiago
agita a bandeira da Nação sacrificada

sentença maior e mais justa
vem pelas mãos do tempo
juiz sereno
severo
incorrupto

somente a morte vence a fúria
dos ditadores
a injúria dos Senhores
a infâmia dos dominadores
somente a morte não morre
de ambição e tédio

pouco importa se a história está morta
o importante
é que a esperança e a poesia
sobrevivam às ruínas das civilizações
abaixo e acima da linha do Equador

de Neruda a Drummond
de Gabo a Cabral
de Gabriela a Milton
de Mercês a Glauber
Atahualpa YupanquiVictor Jara
Elis Regina
Geraldo Vandré

hoje morreu no Chile Augusto Pinochet
a América Latina renasce de luz lunar

não queiras o perfume da manhã
o sol em flor no coração da janela
o sol tem seu caminho pronto
o flor tem seu tempo de glória
não queiras o perfume por mais puro
talvez não seja só de flor o seu aroma
nem só de sol o tom de sua pele
ao perfume da manhã tudo se mistura
o som da música o mistério o ruído da plebe

não queiras só para ti o perfume da manhã

sábado, 9 de dezembro de 2006


“É uma coisa admirável olhar um objeto e acha-lo belo, pensar nele, retê-lo, e dizer em seguida: Vou desenha-lo, ( fotografá-lo) e trabalhar então até que ele esteja reproduzido. Cartas de Van Gogh a Théo Fragmento de
Abril de 1882 .

um poema feito pedra de sol
branco
livre de todo encantamento
sem ornato
de pedra
branco
sob o céu claro
mergulho de ave
no deserto
vazio sem nuvens

um ponto cego no espaço
um poema branco para Octávio Paz


primeiro foi a pedra
depois o gesto
o arremesso
o aceno contra o vento
espesso tempo
a tempestade do medo
original por dentro
a fala veio após
a floração dos cipós
a divisão das terras
e das águas
após a multiplicação
dos signos
das letras e imagens
feito fosse pão
o milagre da página
a erosão da paisagem
após a vertigem do espaço
entre linguagem e coisa
entre a noite e as cores
entre o cosmo e o caos
entre a música e a pauta
veio após tudo se perder
de sentido e nome
as frutas podres
seu poder
original embalagem
após o homem se dividir
ao longo da viagem
entre som e pedra
entre sono cego
entre sonho incerto
virtual miragem

primeiro foi a pedra
a linhagem dos pássaros

sexta-feira, 8 de dezembro de 2006


epifalso
aqui jaz o poeta
não foi santo nem herói
nem bandido nem barão
jaz de pedra sob pedra o poeta
como soe ficar a sós
e calcário
ao se ouvir um jazz

após longa vida breve
tanto faz a guerra ou a farsa
a ação entre inimigos
o amigo salafrário
mesmo morto o poeta é um perigo
adverte o prefeito de plantão
o choro surdo dos muros
nada mais lhe fere
nada mais lhe dói

aqui jaz o poeta
sem forma sem futuro


Quarta dimensão.Quatro visões. A imagem fotográfica à semelhança da imagem verbal, na construção poética, submete-se à imaginação e à subjetividade do olhar. Assim a relaidade , dita objetiva,. O mundo dito real desaparece e dá lugar a mundos recriados, recortados , vislumbrados a partir da lente do olhar e da teleobjetiva. Qual é a verdade do mundo?

o que maldita o rumo do poema
o remo no reino de água escura
o ritmo mais leve estrutura
o murmúrio do rio ferve
inimigo rumor a flor da pelve
infimo fio que de sereno se tece
indo e vindo como se tudo breve

rio fosse o sol o que sua pele inverte