sexta-feira, 20 de outubro de 2006

A morte mora entre Arcos e Formiga

Mal acordo. O telefone toca pela primeira vez.São sete horas de uma incerta manhã de sol claro e vivo.O dia anterior foi marcado por nuvens cheias, vento forte e relâmpagos.
Pelos sinais, os cerrados tremeram . As pedreiras da região se estremeceram de tanta chuva. Só as tempestades do humano coração costumam ser mais fortes e ameaçadoras!
Meia dúzia de palavras e a notícia que, quando ruim, corre mais rápido. Assim diz a voz popular. A voz de Deus, quem sabe!
-Você ficou sabendo do acidente que acabou de acontecer ali na curva da morte?
Não respondo. Penso.Pergunto.
-Outra vez?
-Pois,é, mais um.Pelo jeito é mais de um toda a semana.
-Não é possível, retruco, entre cético e assustado.Você se lembra? Há poucos dias um acidente com a Kombi que levava pacientes de Arcos para fazer hemodiálise no Hospital de Formiga, causou a morte de cinco pessoas.
Eh, elas estavam lutando pela vida e morrem de uma hora para outra.
-De uma morte estúpida e desnecessária.
-É mesmo, responde meio desanimada a outra voz. Se as coisas continuarem assim, não poderemos mais viajar de carro.
-Nem de ônibus , nem de avião, nem de navio.Os homens estão invadindo todo o espaço do Planeta.Estão se chocando como astros apagados. Estrelas mortas.
-Feito cachorros doidos, mordendo uns aos outros.
O homem está perdendo a medida. Bebe demais.Corre demais. Xinga demais. E pelo jeito, não dá a mínima para a vida. Brinca com a morte em cada curva, como em um pega de adolescentes. Como uma roleta russa sobre quatro rodas. E nem se importa se sua irresponsabilidade vai causar a dor e a tristeza em outras pessoas.
A conversa foi interrompida pelas necessidades e rumores cotidianos, mas poderia não ter fim, tantos os casos absurdos de acidentes em todos os pontos do planeta. Só ficamos um pouco sensibilizados quando acontecem com pessoas próximas de nós. Com nossos familiares. Com gente que amamos de verdade. Passado o choque, continua-se a correr, a beber e a xingar, pois a vida é urgente. “Sai da frente que atrás vem gente”. E os acidentes de percurso e os atropelamentos de toda a ordem acontecem dentro e fora do mar.No ar. No asfalto. Nas estradas vicinais .Nas encruzilhadas e atalhos da existência.Dentro de casa, nas repartições públicas e privadas. Nos hospitais, nos super-mercados,nas instituições financeiras, nas ruas e Universidades. No trabalho ou, principalmente, nos períodos de lazer. Realmente o homen não sabe conviver com o avanço tecnológico, com as maravilhosas máquinas que ele mesmo inventou. Sobretudo não aprendeu e, pelo jeito não irá aprender tão cedo, a convier e a respeitar os seus semelhantes.
- O asfalto está ruim?
- Não, está ótimo, foi reformado há pouco tempo.
-Seria bom se se fizesse uma campanha de conscientização, de educação e cidadania no trânsito dirigida aos motoristas da região e caminhoneiros - carreteiros ; Uma campanha ampla que contasse com a participação dos órgãos públicos, da polícia estadual, da prefeitura , escolas e da sociedade. Talvez diminuísse um pouco esta mortandade que está pior do que as guerras do outro lado do Atlântico.
-Seria mesmo, mas alguém tem que tomar a iniciativa. Liderar. Caso contrário , nada acontece. Todos assistem às tragédias de braços cruzados, até que num certo dia , de chuva ou de sol, a coisa vira pro seu lado.Aí, “a Inês é , literalmente , morta”.
-Mas de quem é a culpa de tudo isso?
-Sei não, na verdade não há um culpado só.São vários fatores e situações.
- Sei, então, deve ser culpa do governo. Dos patrões que exigem que os seus mororistas trabalhem até 20 horas por dia. Ou á culpa é da ganância e da ignorância do homem. Se não for do governo, deve ser culpa mesmo é do homem. Ou na melhor das hipóteses, culpa de Deus que fez o homem a sua imagem e semelhança , mas se esqueceu de dar Ele um pouquinho que seja de cuidado, de sua infinita perfeição e divindade.
Seja como for, com ou sem culpados diretos e explícitos, penso mesmo que a morte mora mesmo é entre Arcos e Formiga.Ali naquela curva escura e traiçoeira.






















Duas décadas
O “Xou” não pode parar






Se o sistema político brasileiro fosse monárquico, não faltariam reis nem rainhas para ocupar o trono em Brasília. De Pelé a Xuxa, de Roberto Carlos a Airton Sena, do Rei Momo ao rei da cocada preta, passando pelos fenômenos homônimos e opostos, ambos estrelas decandentes:os Ronaldinhos. Antigamente, no meio musical sertanejo,falava-se em Rei do Gado , o Rei do Café. Atualmente, fala-se em rei do tráfico, rei do contrabando, rei da corrupção e , para não ser omisso, Rei dos Peões de Boiadeiros e Rei do Forró. Ai de nós tem dó, ai de nós pobres súditos de reis tão desastrados.
Coicidentemente, um dos Ronaldos também é gaúcho, portanto, conterrâneo da Rainha dos Baixinhos. Se se considerar que a maior parte dos brasileiros é baixinha, - de baixa estrutura física, cultural , intelectual, econômica e social, incluindo o presidente – este deu a volta por cima - e “não sabe de nada”, a loirinha, que de burra não tem nada, poderia ser considerada a rainha-mãe de todos os brasileiros. Pelo menos daqueles mais alienados e felizes, apesar de toda a tragicomédia-nacional.
Para um país de miseráveis – boa parte de fãs incondicionais do Xou da Xuxa é formada por consumidores implacáveis dos mais de 200 produtos Xuxa, todos supérfluos, inclusive a Rainha dos Baixinhos pode ser considerada uma das empresárias brasileiras mais bem sucedidas do meio artístico brasileiro.
Estima-se hoje que sua fortuna ultrapassa a cifra de mais de R$ 250 milhões. Nada é de graça. Até no amor ela foi milionária. Primeiro foi o Rei do Futebol, depois Sena, o Beco. Já com o empresário e ator Luciano Szafir, seu mais recente namorado, depois da fortuna, Xuxa, conquistou seu maior sonho; ser mãe. A filha Sasha. E assim, como em um conto de fadas , a Rainha ri de seu trono de “faz de conta “ e comenta:"Estou fazendo coisas que nunca fiz. Vou ao playground ficar vendo ela brincar. E vou amarradona, acho o melhor programa do mundo". Enquanto isso, os brasileiros divertem-se no grande circo nacional, coberto pelo céu anil e algumas estrelas esparsas. Um imenso circo , com milhões de palhaços, poucos artistas, muitos bandidos, pouquíssima educação, muita violência urbana e rural, muito forró e Hap – o samba está ficando fora de moda? – e , pra variar, pouco pão para a maioria dos sem tudo. Ah!se este país fosse uma monarquia, Os brasileiros não teriam que escolher, entre opções tão insonsas – uma “esquerda” anacrônica ou um neo-liberalismo globalizante porque, no lugar das eleições, haveria uma guerra entre tantos reis e rainhas desastrados para ver quem ocuparia o trono mágico.
Apesar de tudo, na vida real, sem fantasia nem carnaval, nada se compara ao regime democrático, ainda que “meio mambembe” de República Federativa do Brasil. Certamente, os brasileiros que têm hoje, entre cinco até vinte ou trinta anos, não compreendem , perfeitamente o que estou dizendo.Afinal , o “Xou das bruxas” não pode pára!. E os brasileiros, infelizmente, já não se”axustam” - “axustamos”? - com mais nada.Infelizmente!

quinta-feira, 19 de outubro de 2006


faça ou faça
face a face
faca a faca
faz-se a farsa
ordena a mídia
a moda opaca
a via-crucis
a via-sacra
a vida no vazio
grita
a palavra bate
na vidraça
o dentre morde
a mordaça
simultâneo simulacro
a morte por dentro
lacra

a natureza das coisas

terá o homem negado a natureza das coisas
a alma gêmea do seres inanimados
a palavra liberdade

terá rasgado o homem
o código secreto de seu coração
em nome das leis
do dono da rês
da tez do anjo
perdido a chave do abismo
a raiz de todo sentimento
terá negado o seu semelhante
um único sorriso
diante do altar das oferendas
do impacto das rendas
violado o reino das águas
o regime das chuvas
o regimento das ruas
o canto das aves
a sinceridade da pedra
dos bichos
terá negado a si mesmo
o homem
três vezes
antes do sono
do santo ofício do galo
da peregrinação do gajo

o navio foi feito para o mar
não para o naufrágio
não para o porto
o corpo do navegante

o amor foi feito para o amor
não para a morte
não para marcar
de fogo a posse do feitor

maior liberdade é seguir
sem resistir
o percurso da vida
sem mirar o porvir
sem ao mapa de origem se prender
perder-se de amor

maior liberdade é viver a natureza das coisas

quinta-feira, 5 de outubro de 2006


não guardo rebanhos
nem estrelas
signo meu caminho de letras
em branco
sem vê-las
às vezes me perco
na pastagem urbana
na paisagem desumana
uivam lobos e ovelhas
sigo sombras fugidias
redemoinhos sem fronteiras